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Foto do escritorLiga Acadêmica de Estomas e Feridas - UFMA

Quais as competências diferenciais de um enfermeiro estomaterapeuta de excelência?


Quando me propus a escrever essa coluna, pedi ao João Rodrigo que me desafiasse com as pautas e esse tema é muito desafiador porque tem tanta coisa a ser dita...


Para vocês, leitores, entenderem como vou discorrer sobre o tema, é necessário irmos um pouco lá atrás, no início da minha jornada na enfermagem, e onde basicamente foi plantada a semente da estomaterapia em mim.


Minha vida profissional caminhou e caminha também pela terapia intensiva, uma de minhas grandes paixões profissionais, diga-se de passagem, e nela pude me deparar com lesões de todos os tipos das mais simples como Feridas operatórias e as mais complexas como queimaduras, síndromes de Fournier, amputações e afins sem contar os estomas. Sempre que estava diante de alguma lesão desafiadora, eu não tinha segurança para ir além do básico, visto que eu usava o café com leite que conhecemos: AGE, Sulfadiazina de prata, Hidrocolóide e Colagenase, quando muito um hidrogel (Que era celebrado como um achado quase intergaláctico).


Nas graduações, não há uma ampliação profunda dentro das áreas de trabalho do enfermeiro estomaterapeuta: estomias, feridas e incontinências. E mesmo sendo intensivista, o conhecimento dessa área não é profunda no que tange às áreas de trabalho da estomaterapia. Trabalhamos com vidas humanas e, portanto, não há espaço para empirismo - ou sabe-se ou não se faz. Então a saída é estudar, afinal, se você não sabe o que procura, nunca vai entender o que acha!


Essa limitação foi alimentando aos poucos em mim o desejo de mais conhecimento, acredito na Prática Baseada em Evidências (PBE) e, para tanto, sempre fui leitor assíduo de periódicos e artigos das minhas áreas de interesse. Mais ainda sentia que poderia ir além, foi então que me desafiei e me matriculei na pós graduação em Estomaterapia, pós graduação essa que recebe esse nome, pois é chancelada pela SOBEST – Sociedade Brasileira de Estomaterapia (http://www.sobest.org.br/).


A estomaterapia no Brasil é ainda jovem, visto que seu início oficial foi na década de 90. Possui sua origem HISTÓRICA com Norma Gill (Paciente ileostomizada) e Rupert Turnbull (coloproctologista), com a união dessas duas personalidades foi dado o início à construção desse legado ao mundo. Temos como órgão oficial mundial o World Council of Enterostomal Therapists (WCET), que já na década de 80 definiu que a estomaterapia deveria ser exercida exclusivamente pelo Enfermeiro.


No Brasil, o nosso órgão de classe, o COFEN, nos traz como normativa a RESOLUÇÃO COFEN Nº 567/2018 que revoga a Resolução Cofen nº 501/2015. Essa resolução simplifica e organiza as ações ao paciente portador de lesões bem como a atuação de cada ator responsável pelo cuidado. Em relação ao estomizado, o Ministério da Saúde, através da Portaria SAS/MS Nº 400 16 de novembro de 2009, estabelece diretrizes para a organização dos Serviços de Atenção a Pessoas Estomizadas no país.


Uma pergunta frequente que me fazem, desde médicos até pacientes: O que é um estomaterapeuta, é especialista em estômago? Por ser uma especialidade jovem no Brasil, essa pergunta é muito mais que um questionamento inocente, pois enxergo nela o desafio de divulgar a nossa área de conhecimento e de fato nos empoderarmos da nossa ciência e fazê-la chegar a quem precisa.


Todo enfermeiro é capaz de lidar com lesões, estomas e incontinência? Sim! Se devidamente preparado. Mas então por que existir uma especialidade específica para isso? Imagine-se em uma orquestra, o enfermeiro generalista entende a música e sabe tocar alguns dos instrumentos, porém, o estomaterapeuta é capaz de reger todos os instrumentos de maneira harmônica, pois conhece a capacidade e as limitações de cada instrumento, tirando o melhor proveito de cada nota e tornando a música de fato harmoniosa. O estomaterapeuta entra em cena muitas vezes em quadros complexos, onde o conhecimento do generalista chega ao limite.


Não pense que lidar com as áreas da estomaterapia seja algo fácil, por vezes me vejo debruçado em tratados de cirurgia vascular, dermatologia, oncologia, cuidados paliativos, fitoterapia, coloproctotologia, urologia, feridas, intensivismo e afins. É uma busca de saber sem fim, quanto mais estudo, mais vejo que sabia menos ontem, e se continuar na estrada do aprender, hoje vou saber menos que no amanhã.


O estomaterapeuta deve conhecer profundamente a fisiologia humana, ter uma expertise clínica apurada, ser assertivo, ser sensível ao outro, ter empatia e principalmente saber trabalhar em interdiciplinaridade. É uma das áreas da enfermagem onde o resultado do seu trabalho é interrelacionado ao saber de diversos profissionais, não é uma competição, é a soma do trabalho de todos que culmina no êxito ou falha, por isso a equipe deve estar sempre alinhada.


Hoje atuo principalmente com portadores de lesões e estomizados, cresci muito com cada paciente que tive a oportunidade de conhecer e cuidar, costumo falar que cada ferida, cada estoma tem papel importante na biografia de seu portador, assim, é preciso ter sensibilidade quanto a isso. Fazer curativo não é difícil, mas ajudar a curar uma alma que aquele problema causou esse sim é um grande desafio. Devolver a dignidade, ajudar no reencontro do amor próprio, fomentar coragem, reinserção social, isso não tem preço e vale cada noite e fim de semana debruçado em livros, teses, artigos e discussões científicas. Afinal, qual legado nós, enquanto enfermeiros, queremos deixar?


Aos leitores e membros da Liga, é um prazer construir esse legado ao lado desse time. Grande abraço!


Jonathan de Oliveira Paiva

Enfermeiro ET

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