Glicemia capilar ou de forma não acadêmica, com é chamada, “açúcar no
sangue”, é um dado extremamente importante para um excelente manejo do
Diabetes Mellitus. É um teste que pode ser feito pelo próprio paciente, nesse
caso chamamos de automonitorização da glicemia capilar (AMGC), que requer
o uso de um kit de Glicosímetro. Com um pequeno furo no dedo o paciente
consegue obter o valor da glicemia capilar.
Vários são os métodos e dispositivos para controle do “açúcar no sangue”
desde ambulatoriais, como o exemplo a seguir, até os dispositivos eletrônicos
inseridos abaixo da pele. Atualmente é solicitado ao paciente a realização em
laboratório do exame de hemoglobina glicada (ou teste de HbA1C ou A1C),
com a indicação de repetição do exame uma vez a cada três meses ou não,
dependendo do estágio da doença. Essa análise clínica mostrará um valor em
porcentagem, que pode variar e a depender da condição da doença e do
autocuidado. Vale lembrar que o valor da A1C em uma pessoa normal varia de
4,5 a 5,6%, caso uma pessoa tenha resultados entre 5,7 a 6,5% pode ser
considerada pré-diabética, valores maiores podem indicar o Diabetes instalado.
Em todos os casos é indispensável a avaliação por uma equipe de saúde.
Alinhado a esse teste, recomenda-se a realização da AMGC. A frequência de
medida depende do tipo do diabetes, do estilo de vida, do tempo que se tem a
doença, assim como do tratamento utilizado. As medidas, devem ser realizadas
pré e pós prandial, ou seja, antes e após as refeições. Também, em casos
específicos, é solicitado a realização do AMCC antes de dormir.
Os valores obtidos devem ser registrados pelo paciente, para que tenha uma
noção da variação glicêmica e assim manejar com a ajuda dos profissionais de
saúde a sua condição clínica. Ademais, os dados ficam armazenado nos
glicômetros e podem ser baixados e visualizados com uso de sistemas
computadorizados. Não obstante, essa opção não exclui o registro pelo
paciente, assim é válido disponibilizar para o mesmo ou criar um sistema de
registro impresso, lembrando sempre da condição financeira.
Embora necessário, a AMGC ainda é um desafio no manejo do diabetes.
Vários estudos tem concentrado forças para identificar as barreiras e também a
melhor forma de realizar a automonitorização.
As principais barreiras que dificultam a adesão a este método são:
Desinformação ou falha na transmissão pelo profissional;
Desconforto pelo número de vezes que deve furar o dedo, e isso é aumentado se o indivíduo é insulinodependente;
A percepção do quadro como ruim que leva à desmotivação;
A exposição da condição de saúde para estranhos quando as medidas necessitam serem realizadas fora do domicílio, bem como a condição financeira do paciente.
Quanto a melhor forma de realizar a automonitorização os estudos mostram
que depende da condição clínica do paciente, do seu nível de informação, da
condição de saúde mental, bem como da sua situação financeira.
Com isso percebemos que não é uma tarefa fácil para ambas as partes
interessadas, tanto para os pacientes, como para a equipe multidisciplinar de
saúde. No entanto, não é motivo para desmotivar!
Para que diminua as barreiras para a realização da AMGC que tal adotar
algumas dicas?
*Para você paciente:
A sua colaboração é muito importante!
Não deixe que o medo e a desinformação atrapalhem o seu estado de saúde.
Tenha sempre em mente que você pode melhorar sua condição de saúde e ter uma vida qualificada mesmo com o Diabetes;
Observe seu corpo, pois ele da sinais de como está a sua glicose sanguínea;
Seja franca(o) com sua equipe de saúde quando não conseguir seguir o regime de autocuidado;
Diabetes é mais comum do que muita imagina, não tenha vergonha da sua condição, não estas sozinha(o);
Adquira conhecimento sobre a doença, existe sites e aplicativos de sociedades (Ex. Sociedade Brasileira de Diabetes -SBD) com equipe multidisciplinar, focada no diabetes, com informações suficientes disponibilizadas para seu estudo;
E claro, acompanhe aqui nossas publicações sobre o diabetes
*Para você profissional de saúde:
Certifique-se de que sua equipe está devidamente alinhada com informações sobre AMGC, para poder ensinar os pacientes (vide as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes -SBD);
Crie um mecanismo de feedback para saber se o paciente compreendeu como o mesmo realizará a AMGC;
Use dos dispositivos eletrônicos para facilitar e otimizar o acompanhamento do paciente, assim evitando gastos desnecessários, inclusive de tempo, beneficiando assim mais pacientes, e é claro sem perder a qualidade;
Facilite o acesso dos pacientes a dispositivos da AMGC realizando convênios com fornecedores e/ou fabricantes;
Nunca desista de um paciente que não colabora, encaminhe-o para o serviço de saúde mental;
O Diabetes mellitus não é uma doença de fácil manejo, é fato. No entanto,
podemos juntos, paciente e profissional, unir forças para chegar na estabilidade
clínica e menos danosa para a saúde como um todo.
Não abordei aqui inúmeros detalhes sobre o autocuidado no Diabetes (como
dispositivos para realizar AMGC; a forma correta de coletar o sangue de ponta
de dedo e quais são as possibilidades de periodicidade da AMGC, bem como
sobre o Sistema de Monitorização Contínua de Glicose - SMCG), pois o foco é
levá-los uma reflexão crítica sobre a AMGC. Em breve poderá ler aqui essas
outras informações detalhadas.
Até breve!
Dr Laércio FS
Enfermeiro graduado pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes/MG
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