Hoje o assunto ainda é o Diabetes Mellitus e a Automonitorização de Glicose Sanguínea - AMGC, porém vamos falar de uma temática pouco discutida pela esfera social; o surgimento de lesões cutâneas nas pontas dos dedos de pacientes diabéticos, decorrente da automonitorização dos níveis de açucares no sangue.
Para realizar a AMGC e prevenir complicações do diabetes, muitas vezes, requer furar a pontas dos dedos três ou mais vezes ao dia, principalmente pacientes tratados com insulina. É uma medida necessária, porém pode provocar lesões cutâneas e dor.
A lesão pode ser identificada através de uma inspeção cuidadosa a procurar por hematoma, endurecimento (do tecido epitelial) , queratose ou cicatrização. As lesões surgem sobretudo pelo não rodizio dos locais, falta de higiene e também pela reutilização de lancetas (agulhas). Ademais, o surgimento das lesões tende a ser mais frequente em pacientes mais velhos e que convivem com o diabetes mellitus a mais tempo.
Considerando que a dor é um motivo importante, apontado pela literatura vigente, da baixa adesão a AMGC, cabe aos profissionais de saúde orientar os pacientes quanto a necessidade de realizar rodízios de locais de coleta de sangue (pode ser utilizado a palma da mão, braço, antebraço, “barriga ou batata” da perna e a coxa), e a higienização das mãos antes da prática a fim de evitar o surgimento desse tipo de lesão diminuindo assim a sensibilidade dolorosa.
Você sabe o que fazer caso identifique uma lesão desse tipo?
Como toda lesão você deve observar o aspecto, o estágio, a presença ou não de infecção. Na maioria dos casos manter a hidratação, limpeza e não utilizar a região para teste pode, em poucos dias, solucionar o problema. Caso tenha alguma dúvida com o manejo recomendo procurar um enfermeiro especializado para uma avaliação.
Se existir recorrência de lesões desse tipo o que posso fazer?
Se o problema persistir, pode ser adotado o método de automonitorização contínua de glicose. Os monitores contínuos de glicose (MCG) usam um sensor para medir continuamente os níveis de glicose no fluido intersticial a cada 10 segundos e fornece valores médios a cada cinco minutos. Os MCGs são ferramentas emergentes no tratamento da diabetes tipo 2, são fixados em alguma região do corpo do paciente, também possui uma agulha, e permite a leitura dos níveis de glicose em tempo real.
Os valores podem ser acompanhados através de um monitor portátil e também podem ser baixados para um computador.
Quais são os efeitos benéficos dos MCGs para os pacientes diabéticos?
Até o momento poucos são os trabalhos científicos que contemplam uma grande amostra de participantes, no entanto é apontado: uma maior satisfação do paciente e uma possibilidade de melhor controle de episódios de hipoglicemia, principalmente em adultos mais velhos.
Em suma, avalie cuidadosamente a mão dos seus pacientes diabéticos toda as vezes que atendê-los. Uma simples prática que pode aumentar a qualidade de vida, uma vez que propicia identificação precoce de lesões de ponta de dedo.
Dr. Laércio Ferreira Silva
Enfermeiro graduado pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes/MG
Referências
JANAPALA, R. N.; JAYARAJ, J. S.; FATHIMA, N.; KASHIF, T. et al. Continuous Glucose Monitoring Versus Self-monitoring of Blood Glucose in Type 2 Diabetes Mellitus: A Systematic Review with Meta-analysis. Cureus, 11, n. 9.
LE FLOCH, J. P.; BAUDUCEAU, B.; LÉVY, M.; MOSNIER-PUDAR, H. et al. Self-monitoring of Blood Glucose, Cutaneous Finger Injury, and Sensory Loss in Diabetic Patients. Diabetes care, 31, n. 10, 2008 Oct 2008.
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