Os indivíduos que precisam ser submetidos a uma cirurgia de confecção de estomia intestinal de eliminação em algum momento de sua vida, seja ela temporária ou permanente, passam por inúmeros desafios e dificuldades. Inicialmente, com o medo do procedimento cirúrgico que vai ser realizado e posteriormente, com as radicais mudanças em sua autoimagem e atividades de vida diária causadas pela presença da estomia. Esses desafios podem ser ainda mais complexos se o paciente tiver que lidar com algum tipo de complicação em sua estomia. Neste momento, o paciente precisa de muito apoio da equipe multiprofissional e, principalmente, do enfermeiro estomaterapeuta.
As complicações pós-operatórias deste tipo de estomia podem ser classificadas como imediatas (ocorrem nas primeiras 24 horas após a cirurgia), precoces (entre o 1º e 7º) e tardias (após o 7º dia).
As complicações imediatas são hemorragia, sangramento, edema e necrose; As precoces incluem a separação mucocutânea, na qual ocorre separação da estomia da pele adjacente que pode ser causada por tensão de sutura, problemas de cicatrização, infecção ou necrose, e a retração, desaparecimento ou redução importante da estomia na linha da pele do abdome. As tardias incluem estenose, prolapso de alça e hérnia paraestomal. Porém, falaremos hoje mais profundamente sobre a dermatite periestomia, que é uma das complicações mais frequentes e que pode ocorrer a qualquer momento do pós-operatório.
A dermatite periestomia mais comum é a irritativa ou química, causada pela exposição da pele periestomia ao efluente eliminado, que acaba lesionando a pele pelo excesso de umidade, somado ao pH alcalino e as enzimas digestivas presentes nas eliminações, causando lesões químicas. Também podem ocorrer dermatites por trauma mecânico, pela remoção traumática da base adesiva ou por uso de técnicas abrasivas na limpeza da pele periestomia ou dermatites infecciosas, que podem ocorrer por bactérias ou fungos, como a Candida albicans.
As dermatites podem ter diversos graus de comprometimento da pele e prejudicam muito a qualidade de vida do paciente, pois dificultam a adesividade da base de hidrocolóide, causando vazamentos (que podem piorar ainda mais as lesões, além de causar ansiedade e constrangimento ao paciente, que fica com constante medo de estar sujo) e podem ser extremamente dolorosas.
O enfermeiro estomaterapeuta tem papel essencial na prevenção e tratamento da dermatite periestomia. O primeiro passo para prevenção é a demarcação correta de onde irá ser realizado a estomia, em um local que irá facilitar a adesão da base adesiva, longe de dobras de pele e acidentes anatômicos. Em um segundo momento, deve ser feita a orientação do recorte correto da base adesiva, evitando que a pele periestomia entre em contato com o efluente eliminado, ficando assim totalmente protegida pelo hidrocolóide. Os pacientes que recebem alta hospitalar com estomias intestinais devem estar muito bem orientados em relação a isso, para evitar que realizem recortes errados.
Em conjunto com a equipe de nutrição também precisamos reforçar as orientações ao paciente em relação a sua alimentação. A ingestão de alimentos laxativos deve ser diminuída ou evitada, pois o efluente líquido e em excesso também pode favorecer vazamentos e potenciais lesões de pele.
Em nossa próxima coluna falaremos mais sobre a classificação das dermatites periestomias e sobre seu tratamento. Até breve!
Referências:
1. Santos VLC de G, Cesaretti IUR. Assistência em estomaterapia: cuidando de pessoas com estomia. São Paulo: Atheneu; 2015.
2. Wound Ostomy and Continence Nurses Society. WOCN Society Clinical Guideline. J Wound Ostomy Cont Nurs. 2018; 45(1):50–8. https://doi.org/10.1097/WON.0000000000000396
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