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História e Evolução dos Materiais para Estomias

Atualizado: 25 de nov. de 2021



Atualmente, os pacientes com estomias tem uma ampla variedade de dispositivos a sua disposição. Diversos avanços tecnológicos permitiram o desenvolvimento de materiais e equipamentos coletores, adjuvantes e acessórios, de modo a melhorar a qualidade de vida do paciente com uma estomia. Contudo, nem sempre foi assim. Hoje vamos ver como esses materiais evoluiram ao longo do tempo.

Apesar da primeira cirurgia de confecção de uma estomia datar de 1776, existem registros de que em 1706 um soldado chamado George Deppe, ferido na Batalha de Ramilles, na Espanha, viveu por 14 anos com uma colostomia prolapsada. É relatado que eram utilizados trapos e musgo para absorção das fezes. Em 1776 há um registro da construção de um estoma intestinal devido a um bloqueio intestinal, por um médico francês. Foi utilizado uma variedade de materiais tais como bolsas de couro com cordões e enemas intestinais, os quais são os primeiros registros de tentativas para criar aparelhos de estomias.


Ainda em 1900 não havia produtos específicos o que levava as pessoas a inventarem seus próprios dispositivos de coleta: latas de metal, sacos de papel, câmaras de ar de borracha eram alguns dos materiais utilizados. Extratos de baunilha e hortelã, comprimidos de aspirina, enxaguante bucal, perfumes, bicarbonato de sódio eram algumas das preparações utilizadas para controlar o odor, sem sucesso. Para evitar lesões na pele ao redor do estoma eram utilizados amido de milho, talcos e pastas de alumínio. A maioria dos pacientes com estomias era relegada aos seus lares, lá permanecendo como párias sociais, devido ao constrangimento, medo e falta de segurança. Em 1912 houve uma patente para um "aparelho cirúrgico para ser preso ao corpo de uma pessoa com uma operação cirúrgica, útil para situações onde foi realizada uma incisão na parede da barriga do paciente". Em 1920 um médico teve a ideia de uma bolsa de borracha que poderia ser colada no abdome do paciente, fixada por adesivos e cintos.


Em 1950 os produtos, assim como as técnicas cirúrgicas evoluíram. Foi nesse período que o Dr. Turnbull, juntamente com Norma Gill, uma paciente estomizada, deram os primeiros passos na formação da estomaterapia moderna. Nesse período os plásticos começaram a ser utilizados. Entretanto, muitos aparelhos eram feitos de borracha grossa e de pouca mobilidade e conforto.


Na década de 60 havia aproximadamente 25 fabricantes de produtos de estomias nos Estados Unidos. Nessa época houve a mudança do uso dos volumosos sacos de borracha para filmes plásticos mais estéticos. Houve o desenvolvimento da resina de Karaya, uma resina natural produzida a partir da seiva de uma árvore chamada Sterculina urens. Foi observado que o pó de Karaya tinha a capacidade de absorver os líquidos, o que permitia um melhor uso junto aos pacientes ileostomizados. Nessa época a resina de Karaya tornou-se o padrão de uso como adesivo de pele e barreira protetora até o surgimento das resinas sintéticas. A bolsa de Karaya foi tão utilizada que o termo, muitas vezes, é utilizado como sinônimo de "bolsa de colostomia".


No início dos anos 70 houve uma mudança de filosofia das empresas, passando a fornecer "a solução que o paciente necessita". Nessa época houve um avanço com o desenvolvimento e aprimoramento das resinas sintéticas, como o hidrocolóide, mudanças que permanecem até os dias atuais. Hoje a maioria dos produtos é descartável, feito de um material semelhante a um tecido, que repele a água e não agride a pele, como os filmes transparentes. Houve o desenvolvimento de bolsas com filtros para mascarar o odor e reduzir o volume da bolsa, assim como dispositivos para redução dos ruídos advindos dos intestinos. Os dispositivos contam com um sistema de fixação próprio, eliminando a necessidade de grampos ou fechos. Atualmente existem barreiras de pele projetadas para aderir na pele sem a necessidade de cintas ou fixadores. Tudo isso em um dispositivo extremamente leve, discreto e funcional. Tais produtos permitem que as pessoas com estomias voltem às suas vidas cotidianas, aumentando sua autoestima e melhorando sua qualidade de vida.


Um longo caminho foi percorrido desde que o primeiro paciente precisou de um equipamento específico para sua estomia. Outrora, dadas as complicações, a cirurgia para confecção de uma estomia era praticamente uma sentença de morte. Aqueles que sobreviviam, eram excluídos sociais, vivendo em isolamento, abandonando suas atividades e escondidos do mundo. Atualmente, graças aos avanços tecnológicos e aos materiais atuais é possível que o paciente, apesar de algumas limitações, tenha uma vida normal.


Referências:

1. MAB; Paula PR; Cesaretti IUR (org). Estomaterapia em foco e o cuidado especializado. São Caetano do Sul: Yendis Editora; 2014. 2-11.


2. SANTOS, Vera Lúcia Conceição de Gouveia; CESARETTI, Isabel Umbelina Ribeiro. Assistência em estomaterapia: cuidando de pessoas com estomia. [S.l: s.n.], 2015.


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