Os pacientes hospitalizados apresentam grandes potenciais para o desenvolvimento de lesões de pele, seja pela complexidade de sua doença, seja pela gravidade ou até mesmo após um procedimento cirúrgico ou traumático. Os pacientes internados no ambiente de terapia intensiva apresentam um quadro complexo, com desequilíbrio dos principais sistemas fisiológicos além da utilização de terapias e tecnologias como dispositivos médicos, por exemplo, que são fatores de risco para o desenvolvimento de lesões de pele neste cenário crítico. O aumento das lesões de pele nas unidades de terapia intensiva é um indicador negativo para a qualidade da assistência.1,2
As lesões de pele nas unidades de terapia intensiva (UTIs) reduzem a qualidade de vida, aumentam a necessidade de tratamentos medicamentosos, prolongam o tempo de permanência nestas unidades, os custos hospitalares, além de aumentarem a mortalidade e as sequelas dos pacientes pós internação. Apesar disso, a pele é o órgão mais esquecido pelos profissionais intensivistas, devido à complexidade do paciente e muitas vezes as lesões de pele são ignoradas no exame clínico diário. Lesões de pele não tratadas adequadamente são responsáveis pelo desenvolvimento de lesões mais complexas e até mesmo incapacitantes.1,2
Sabemos que a pele atua como uma barreira que protege o corpo humano de fatores externos e mantém a temperatura corporal e seu equilíbrio. Qualquer dano a ela resulta na interrupção deste equilíbrio delicado. Em pacientes gravemente enfermos, a imobilidade, os tratamentos farmacológicos e uma série de outros fatores associados tornam a pele mais suscetível às lesões. Esses pacientes também podem desenvolver várias reações medicamentosas, dermatoses e infecções. 1
Devido a estas características, as lesões de pele são comuns nas UTIs e representam um grande desafio aos profissionais que atuam nestas unidades. O enfermeiro de terapia intensiva necessita de um amplo conhecimento para a identificação dos fatores de risco para lesões de pele para que possa proporcionar a estes pacientes internados nestas unidades medidas preventivas e de tratamento específicas para este cenário. Além disso, este profissional tem papel de liderança nestes cuidados dentro da equipe multiprofissional.
Atualmente, a literatura disponibiliza uma série de protocolos e instrumentos que operacionalizam um cuidado com qualidade principalmente na prevenção de lesões de pele em UTIs, desde a avaliação de risco destes pacientes (por exemplo, a utilização da “Escala de Braden”, para a avaliação de risco para o desenvolvimento de lesões por pressão) até instrumentos que permitam ao profissional uma avaliação detalhada das características das lesões e sua evolução no decorrer da internação do paciente (por exemplo, “Bates-Jensen Wound AssessmentTool”). Estes instrumentos auxiliam o enfermeiro no julgamento clínico para que direcione o cuidado tendo por base as melhores evidências científicas.3,4
A prevenção e tratamento de lesões de pele vêm se inovando nos últimos anos com o desenvolvimento de novos produtos no mercado exigindo do profissional enfermeiro uma capacitação técnico-científica aprofundada para avaliar e indicar o produto mais adequado, seja este para prevenção ou tratamento. A avaliação da pele é uma parte do exame clínico do paciente crítico complexa e está diretamente relacionada com o quadro clínico do paciente, envolvendo fatores como mobilidade, sensibilidade, umidade, utilização de sedativos, drogas vasoativas e demais medicamentos em uso, aporte nutricional e hídrico, presença de comorbidades, idade, lesões traumáticas ou cirúrgicas, instabilidade hemodinâmica, presença de infecção e uso de dispositivos médicos hospitalares e exige do profissional a correlação destes fatores para proporcionar um cuidado seguro e com qualidade.1,2,3,5
Os cuidados com a pele em UTIs não só melhoram a qualidade do atendimento ao paciente grave como também diminuem o tempo de internação e a mortalidade destes pacientes. Protocolos de avaliação da pele devem ser estabelecidos nas UTIs e o enfermeiro é importante neste processo.
E aí? Já avaliou a pele do seu paciente hoje?
Referências Bibliográficas
1. Badia M, et al. Skinlesions in the ICU. IntensiveCareMed (1999); 25: 1271-6.
2. Pektas SD, Demir AK. ProspectiveAnalysisofSkinFindings in SurgicalCriticallyIllPatientsIntensiveCare Unit. Indian J Dermatol. 2017;62(3):297-303.
3. Serpa LF, Santos VLCG, Campanili TCGF, Queiroz M. PredictiveValidityofthe Braden Scale for PressureUlcer Risk inCriticalCarePatients. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2011 Jan-Feb;19(1):50-7.
4. Alves DFS, et al. Tradução e adaptação do Bates-Jensen Wound Assessment Tool para cultura brasileira. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2015 Jul-Set; 24(3): 826-33.
5. Pinto DM, Schons ES, Busanello J, Costa VZ. Segurança do paciente e a prevenção de lesões cutâneo‑mucosasassociadas aos dispositivos invasivos nas vias aéreas. RevEscEnferm USP · 2015; 49(5):775-82.
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