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Foto do escritorLiga Acadêmica de Estomas e Feridas - UFMA

QUEIMADURAS


A queimadura é uma lesão traumática, causada por agentes térmicos (calor ou frio), químicos, elétricos ou radioativos. Causam lesões nos tecidos orgânicos, que podem variar desde pequenas lesões, de simples resolução, a formas mais graves, com lesões de grande extensão e respostas sistêmicas graves, proporcionais à extensão e à profundidade. Essas podem levar a incapacidades e até a morte, por envolver respostas metabólicas intensas que podem afetar diversos órgãos1.

Em termos epidemiológicos, as queimaduras podem ser consideradas um problema de saúde pública, pois estima-se que ocorram cerca de 1.000.000 de acidentes com queimaduras por ano no Brasil e, destes, cerca de 100.00 pacientes necessitam de atendimento hospitalar, com cerca de 2500 mortes por conta das lesões, de forma direta ou indireta2. Além da mortalidade, podem ocorrer ainda diversas sequelas estético-funcionais àqueles que sobrevivem, acarretando um longo período de tratamento e reabilitação do indivíduo3.

Cerca de 77% dos acidentes acontecem em casa e 40% destes afetam as crianças de até 10 anos. Os traumas gerados por agentes térmicos quentes, como fogo, água fervente, objetos aquecidos, rescaldamento e líquidos inflamáveis, como o álcool, estão entre os de maior índice de acometimento, enquanto que as lesões decorrentes das correntes elétricas e agentes químicos possuem menor incidência em nosso país4.

As queimaduras são classificadas de acordo com a profundidade dos tecidos afetados, pela extensão da superfície corpórea acometida e ainda pela gravidade das queimaduras. Em relação a profundidade da destruição tecidual, podem ser classificadas em queimaduras de primeiro, segundo e terceiro grau. As de primeiro grau envolvem apenas a epiderme, causam dor, são caracterizadas por hiperemia e pequeno edema e a recupeção varia de 4 a 6 dias. As de segundo grau, envolvem epiderme e parte da derme, causam muita dor, são úmidas, apresentam flictemas (bolhas) e descamação. Já as de terceiro grau são mais profundas, podendo atingir tecido subcutâneo, conjuntivo, músculo e osso. Essas geralmente são indolores, pela destruição das fibras nervosas, e se caracterizam por presença de placa esbranquiçada, vermelha, castanha ou enegrecida, seca e rígida. A enxertia é necessária, devido a impossibilidade de reepitelização5.

Em relação a extensão, a superfície corpórea queimada (SCQ) é estimada por alguns métodos, como a regra dos nove, de fácil aplicação e muito utilizada na urgência, o método Lund e Browder, mais adequado para crianças, e ainda o método da palma, no qual a palma da mão do paciente equivale a 1% da SCQ.

Quanto a gravidade das queimaduras, a classificação pode ser leve, media ou grave. O pequeno queimado (leve) é aquele que possui queimaduras de primeiro grau ou as de segundo mas que atinjam menos de 10% da SCQ em adultos ou 5% em crianças. O médio queimado possui queimaduras de segundo grau, com 5% a 15% de SCQ na criança e 10% a 20% no adulto ou que de qualquer extensão mas que atinja face, mão, pé, pescoço e axila, ou ainda aquele que possui queimaduras de terceiro grau com até 10% de SCQ em adultos, mas que não comprometam face, mão, períneo e pé. No grande queimado tem-se queimaduras de segundo grau com mais de 15% da SCQ em crianças e 20% em adultos, ou de terceiro grau com mais de 5% em crianças e 10% em adultos. Também são considerados grandes queimados aqueles com queimaduras no períneo ou por corrente elétrica e ainda as de terceiro grau em mão, pé, face, pescoço e axilas5.

As queimaduras leves e de pequena extensão ou profundidade podem ser de fácil resolução, mas, quando mais extensas, profundas e dependendo da etiologia, elas podem apresentar diversas complicações e colocar em risco a vida do paciente. A infecção ainda é considerada uma das complicações mais urgentes e frequentes no paciente queimado e esse risco se dá pelas condições das feridas que são predisponentes ao crescimento bacteriano 5,6.

O tratamento das queimaduras varia de acordo com sua gravidade. Queimaduras leves podem ser lavadas com água corrente, em temperatura ambiente, por 10 a 15 minutos e protegidas com gaze ou pano limpo até a avaliação profissional.

Nas queimaduras mais graves, de maior extensão, o paciente deve ser avaliado quanto as situações que coloquem sua vida em risco, de acordo com os princípios de atendimento inicial à vítima de trauma. Após a estabilização do paciente, o mesmo deve ser encaminhado ao hospital para seu tratamento de suporte, que envolve reposição volêmica, contole da dor, profilaxia do tétano, suporte nutricional e cuidados relacionados ao banho e os curativos5.

O banho do grande queimado é uma importante ação em seu tratamento, pois favorece a remoção mecânica do exsudato e de tecido desvitalizado, prevenindo a proliferação de micro-organismos5,6. Em relação aos curativos, a limpeza e indicação de coberturas requer bastante conhecimento e critérios, devido aos avanços tecnológicos que geram uma variedade de opções terapêuticas7.

O curativo ideal deve favorecer a reepitelização, preservar o leito da lesão de agressões e promover um ambiente úmido, proteger contra microorganismos e permitir trocas celulares para a restauração do epitélio estratificado de queratinócitos a partir da membrana basal. A opção mais utilizada é a sulfadiazina de prata, que possui efeito bacteriostático e algum potencial bactericida, e tem baixo custo e fácil disponibilidade. Também são encontrados no mercado coberturas de espumas e hidrofibra impregnadas com prata iônica e com prata nanocristalina.

Existem ainda diversos avanços no tratamento de queimaduras, como os curativos biológicos ou biocompatíveis, incluindo a bolsa amniótica, o pericárdio, a pele de porco e ainda a pele de tilápia, esta última, uma ótima opção de biomaterial, de custo acessível e ótima eficácia. São também eficientes os curativos substitutos de pele sintéticos, a base de colágeno, frutos da bioengenharia. Apesar dessas opções, o aloenxerto cutâneo é o padrão ouro para feridas abertas, quando há áreas doadoras disponíveis5.

Essa coluna não tem como pretensão esgotar o assunto, apenas trazer mais alguma colaboração à temática. Percebe-se o quão complexo pode ser o tratamento de um paciente queimado e o quanto precisa ser ainda estudado. A enfermagem tem papel fundamental em todo esse processo e precisa estar atualizada e capacitada, de forma a poder oferecer ao paciente as melhores possibilidades de tratamento, visando sua recuperação da forma mais plena possível.

Referências:

1. PINHO FM, AMANTE LN, SALUM NC, SILVA R, MARTINS T. Guideline das ações no cuidado de enfermagem ao paciente adulto queimado. Rev Bras Queimaduras. 2016;15(1):13-23.

2. CRUZ BF, CORDOVIL PBL, BATISTA, KNM. Perfil epidemiológico de pacientes que sofream queimaduras no Brasil: revisão de literatura. Rev. Bras. Queimaduras 2012;11(4):246-50.

3. MARQUES MD, AMARAL V, MARCADENTI A. Perfil epidemiológico dos pacientes grandes queimados admitidos em um hospital de trauma. Rev. Bras. Queimaduras 2014;13(4):232-5.

4. GIORDANI AT, SONOBE HM, GUARINI G, STADLER DV. Complicações em pacientes queimados: revisão integrativa. Rev. Gest. Saúde (Brasília) Vol.07, N°. 02, Ano 2016.p 535-48.

5. GEOVANINI T. Tratado de feridas e curativos: enfoque multiprofissional. São Paulo: Rideel, 2014.

6. CHAVES SCS. Ações da enfermagem para reduzir os riscos de infecção em grande queimado no CTI. Rev. Bras. Queimaduras 2013;12(3):140-144.

7. CINTRA BB, ECHEVARRÍA-GUANILO ME. Manejo do curativo em grandes queimados. In Inovações tecnológicas no tratamento do grande queimado. Sociedade Brasileira de Queimaduras. 2020. Set; 1-12

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